Em pleno Cerrado brasileiro, na Chapada dos Veadeiros, fica o maior território quilombola do Brasil: o Kalunga, tombado como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural pela Lei Estadual 11.409 de 1991. Um lugar encantado de luta e resistência, guardado por um povo que vive e trabalha pela preservação de sua terra, tradição e cultura, em completa harmonia com a natureza.
Em 2020, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o Kalunga como o primeiro TICCA do Brasil. O TICCA (Territórios e Áreas Conservadas por Comunidades Indígenas e Locais) é uma classificação concedida pelo Programa Ambiental da organização, um título global que exige conexão profunda da população com o território, processos de gestão e governança comandados pela comunidade, conservação da natureza e bem estar do povo.
Kalunga: lugar sagrado, de proteção. Lugar sagrado que não pode pertencer a uma só pessoa ou família. Lugar onde nunca seca, arável, bom para as horas de dificuldade. Lugar. O Quilombo Kalunga tem uma área de 261 mil hectares, que abrange os municípios de Teresina, Cavalcante e Monte Alegre, no Nordeste Goiano. É dividido em quatro comunidades – Contenda, Vão de Almas, Vão do Moleque e Ribeirão de Bois –, nas quais há diversas comunidades integradas, como Engenho, Riachão e Ema, onde vivem cerca de 5 mil pessoas.
O quilombo foi criado em meados do século 18 por africanos escravizados pelos garimpos de ouro e cristal, na época a principal fonte de renda dessa região do estado de Goiás, que passava por seu período de colonização. Os homens e mulheres de fibra alcançaram sua liberdade protegidos pelas serras que circundam o território, abençoados pelos fartos rios e pela abundância do Cerrado nativo. É um lugar de difícil acesso até hoje.
O povo Kalunga é exímio na arte da terra. Pratica a agroecologia com sabedorias de técnicas de plantio, manejo e colheita tradicionais, ouvindo a natureza. Utiliza sementes crioulas e dispensa transgênicos e agrotóxicos. O Cerrado é sua casa. Caminham por ele coletando seus frutos, raízes e plantas preciosos, que se tornam polpas, bolos, farinhas, remédios, biscoitos, garrafadas. Comida de verdade.
Na Chapada dos Veadeiros, esses produtos estão nas feiras agroecológicas e em lojas parceiras. Um dedo de prosa com os produtores é sempre uma dádiva e uma aula.
São guardiões de atrativos importantes na Chapada dos Veadeiros, como a Cachoeira Santa Bárbara, a menina dos olhos da região, que fica na comunidade Engenho II, em Cavalcante. E dão vida, cor, movimento e melodia à cultura tradicional regional.
As festas são uma potência cultural deste povo de fé, que não deixa falhar a famosa romaria de agosto, em homenagem à Nossa Senhora d’Abadia e ao Espírito Santo.
Celebram muitas folias de santos ao longo do ano. Depois das rezas, do terço e da ladainha, o forró vara a madrugada. Entre as tradições estão a levantada do mastro, a procissão com candeias (velas artesanais feitas com cera de abelha e algodão), o Império e a Sussa, a tradicional dança Kalunga.
Uma honra da Chapada dos Veadeiros ter a força e cultura deste povo que luta e Brilha.